Quando a chuva é uma aliada
Normalmente chuva não combina com fotografia e observação de aves. Dias chuvosos costumam ser sinônimo de tédio e espera para os fotógrafos e birdwatchers ansiosos por raios de sol resplandecentes. No entanto, em certas situações a chuva pode ser tornar uma boa aliada na fotografia de natureza.

Durante os dias 7 a 11 de janeiro estive guiando o companheiro João Sergio Souza e seu tio José Saturnino em uma expedição fotográfica pelos chapadões naturais da Serra da Canastra.



João Sérgio Barros fotografa sob forte neblina.
O objetivo da viagem era observar e fotografar a águia-cinzenta (Urubitinga coronata) já que João Sérgio é um confesso admirador das aves de rapina, em especial das grandes e poderosas águias brasileiras, como a nossa gigante do cerrado.

Na região, a águia-cinzenta ocupa um território enorme, composto por campos limpos e pelas diversas formas de cerrado ainda preservado no interior e entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra. Nossa estratégia inicial visava percorrer este território averiguando os pontos comumente mais visitados pela cinzenta.

Porém, diante do mau tempo que se abateu sobre a região, com dias inteiros de chuva intermitente, tivemos de mudar a estratégia e voltar nossa atenção para outras espécies não menos fascinantes que habitam a Serra da Canastra.

José Saturnino (Tio Maninho) e João Sérgio no Chapadão da Zagaia.
Com o excesso de chuva os bichos se tornam preguiçosos, as penas molhadas ficam mais pesadas dificultando o vôo, além disso a oferta de alimento diminui (já que a maioria das presas permanecem entocadas) fazendo com que as aves economizem o máximo de energia, voando somente quando estritamente necessário. Foi aí que descobrimos uma boa oportunidade de nos aproximar de bichos normalmente ariscos e arredios. Nos breves momentos em que a chuva diminuía ou cessava, partíamos rumo aos chapadões ilimitados da Serra da Canastra.

O clima chuvoso é ideal para explorar o efeito preto-e-branco. João Sérgio e Maninho sob a chuva incessante na Serra da Canastra.
Assim, encontramos com facilidade incomum espécies de difícil visualização, como o mocho-dos-banhados (Asio flammeus) e o Urubu-rei (Sarcohamphus papa). Outras, como o gavião-peneira (Elanus leucurus), galito (Alectrurus tricolor), bandoleta (Cypsnagra hirundinacea) e a cigarra-do-campo (Neutrauphis fasciata), proporcionaram momentos de alegria e bons registros fotográficos.

Vencer as estradas escorregadias, desviando dos buracos e rompendo imensas lagoas a bordo de uma valente toyota bandeirante tornou-se uma aventura inigualável.

Contemplar o mocho-dos-banhados planando sob a chuva fina e olhar de perto o colorido exuberante do urubu-rei, deixou-nos com a sensação de vivenciar uma oportunidade rara, possivel de se concretizar somente nos mais molhados dos dias que compõe a estação chuvosa na Serra da Canastra.

Uma boa dica para os dias chuvosos é explorar o ambiente, aproveitando os pingos de chuva para compor a fotografia e criar uma atmosfera especial.
Retornamos da aventura trazendo recordações especiais, concretizadas em belas imagens e com um desafio já traçado: encontrar a águia-cinzenta, desta vez sob a poeira fina e os ventos congelantes que assolam os chapadões do Bugre e da Zagaia no mês de julho.